“Para tudo há um tempo debaixo dos céus:
Tempo para nascer e tempo para morrer,
Tempo para procurar e tempo para perder,
Tempo para guardar e tempo para deitar fora”
(Ecle 3,1.6).
«Perguntem ao estudante que reprovou, quanto vale um ano! Perguntem à mãe que teve o bebé prematuro, quanto vale um mês! Perguntem aos namorados que não se viam há muito, o valor de uma hora! Para perceber o valor de um minuto, perguntem ao passageiro que perdeu o avião! Para perceber o valor de um segundo, perguntem a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente!
(...)
Na escola, na família e na sociedade preparam-nos para o trabalho, mas não nos preparam para o ócio nem nos ensinam a saber “perder tempo”. Não nos faltam meios e propostas para matarmos o tempo, em vez de nos ensinarem a arte de vivê-lo com sabedoria: uns matam o tempo diante do televisor, outros “ocupando os tempos livres” para que nunca estejam livres; outros em actividades radicais, para que nunca cheguem à raiz das coisas e dos problemas… Matamos o tempo para não nos cruzarmos com a morte, e fugimos à morte para não nos encontrarmos com a vida.
(...)
O tempo de férias constitui uma ocasião propícia para acertarmos a vida pelo relógio do sol e pelo ritmo das criaturas. É o tempo em que podemos tapar os ouvidos ao bater das horas, para escutarmos mais as batidas do coração. Longe de ser um tempo para “passar” ou mal gasto, as férias deveriam ser o tempo bem empregue: onde conseguimos arranjar agenda para nós e para os outros; onde redescobrirmos que o dinheiro não é tudo, que as melhores coisas da vida não se compram, pois são grátis, são graça. Longe de ser um tempo de evasão, as férias deveriam ser tempo de encontro, de reflexão, de avaliação; deveriam ser uma ocasião para passarmos do tempo de fazer (ter que fazer), para o tempo de viver, o tempo de experiência da autenticidade e da criatividade; Uma oportunidade para transitarmos das evasivas utopias da máquina do tempo para voltarmos a “ter tempo” e a vivê-lo com magia e fantasia infantil.
Dizia a raposa ao Princepezinho, “foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”. Porque esta continua a ser uma verdade esquecida entre os humanos, é importante que haja quem saiba e ensine a “perder tempo” com o mais importante. E o mais importante continua a ser “criar laços” e “deixar-se cativar”.»
Por
Frei Isidro Lamelas, Fonte Ecclesia
"- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou(...)
- Que significa "cativar"?
- (...) Significa "criar laços"
- Criar laços?
- Isso mesmo disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa, igual a outras cem mil raposas. Mas se me cativares precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. Serei única no mundo para ti.
- Começo a compreender, disse o pricipezinho. Existe uma flor... creio que ela me cativou.
(...)
- Cativa-me, por favor, disse a raposa.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer muitas coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada.
Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os homensjá não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.
- Como é que hei-de fazer?, disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa."
Antoine de Saint-Exupéry
"o Principezinho"
No dia em que conseguirmos todos resolver esta parte da fábula o mundo será melhor.